segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Incentivo Fiscal e a coluna social

Esta semana, em uma sala de espera, me deparei com duas revistas de celebridades, ambas apresentando a cobertura do Oi Athina Onassis Horse Show (Oi AOHS), um badalado evento de hipismo realizado na Sociedade Hípica Brasileira, zona sul do Rio de Janeiro. Ao longo das reportagens foi marcante o relato sobre a qualidade do público do evento e, principalmente, de alguns ilustres competidores com grande destaque para o vice-presidente das organizações Globo, João Roberto Marinho.

Foi coisa para poucos. Além de proporcionar inesquecíveis momentos de deleite entre os seletos convivas e manter acesa a valiosa chama competitiva no coração dos atletas, essa saudável disputa hípica ajudou a difundir a marca de sua maior patrocinadora, a empresa de telefonia Oi. Até aqui, eu me pergunto: o que tenho eu com isso? Não deveria ter nada, mas ao que parece eu, você, e todo mundo tem relação com esse evento.

Para acabar com o mistério, o que nos liga ao Oi AOHS é o fato de parte dessa disputa ter sido realizada com dinheiro público, através de isenções fiscais obtidas por leis de incentivo ao esporte. Infelizmente, por total falta de transparência dos portais eletrônicos da Prefeitura e do Governo do Estado do Rio de Janeiro não foi possível apurar o valor aprovado para isenção nesse projeto.

É assim que a coisa funciona por aqui. A maior empresa de telefonia do país patrocina um evento que leva o nome da herdeira de uma das maiores fortunas do planeta, mas no final somos nós, contribuintes, que pagamos a conta. Enquanto isso, no país da próxima Copa do Mundo  e na cidade sede das Olimpíadas de 2016 um enorme exército de jovens atletas, das mais diversas modalidades, acaba quase sempre dedicando a maior parte de suas energias na busca das condições mínimas para seguir competindo, o que sem sombra de dúvidas compromete seu resultado final, quando não é a causa maior para o encerramento precoce de suas carreiras.

Por fim, fica uma reflexão: é isso que queremos como política pública de incentivo ao esporte? Particularmente acredito que esse enorme volume de recursos públicos não deve - de forma alguma - estar envolvido na promoção desses grandes eventos sociais/esportivos (sim, o Oi AOHS é apenas um caso entre vários) que muitas vezes servem mais para a divulgação das marcas patrocinadoras do que para o fortalecimento do espírito esportivo.

Por falar em transparência na aprovação de projetos esportivos, vale acompanhar o perfil das ações aprovadas pelo Ministério dos Esportes. O endereçõe eletrônico é o seguinte: http://www.esporte.gov.br/leiIncentivoEsporte/consultaProjetos.do

quarta-feira, 20 de julho de 2011

É para rir?

Reportagem do sítio eletrônico BBC News traz reportagem revelando a preocupação da ONU com as mudanças climáticas e suas implicações na manutenção da paz mundial. Interessante ponto de vista. Para ilustrar os potenciais efeitos nocivos de tais mudanças, o texto apresentou os graves impactos da seca que assolou parte da Somália neste ano - essa teria sido a pior seca dos últimos 60 anos - responsável por tornar a Somália um país faminto. Você também ficou surpreso(a)?

Pois é, como vimos, parte da ONU vê a grave crise alimentar que assola a população da Somália como sendo um dos nefastos impactos das mudanças climáticas. Confesso que me preocupa a posição de um organismo multilateral que ignora a história de um país e o drama de seu povo, manobrando os fatos e distorcendo a realidade, buscando com isso angariar maior apoio ao tema climático.

Será que essa estratégia retórica é resultado da falta de elementos mais factíveis para provar as mudanças climáticas ou isso seria apenas uma maneira de mudar o foco de uma das questões mais importantes de todos os tempos: a fome de bilhões de pessoas.

Sob nenhuma hipótese é aceitável a postura da ONU, pois essa abordagem retira completamente o foco da questão, já que a fome da Somália - um dos países mais pobres do mundo - é resultado da ação humana, mas não através das emissões de CO2, e sim dos interesses políticos e econômicos que manobram o mercado de alimentos tornando-os muitas vezes artigo de luxo e/ou moeda de troca para a realização de escusos interesses políticos.

Talvez a grande dificuldade em explicar como ainda haja populações que por décadas e décadas convivem com esse grave problema em um mundo que produz alimentos suficientes para atender às necessidades alimentares de toda a população tenha levado a ONU a esse golpe contra a realidade.